top of page

em paralelo

  • Foto do escritor: deborahrodriguesb
    deborahrodriguesb
  • 25 de mar. de 2024
  • 4 min de leitura

ree

manhã de domingo. o vento gelado pela fresta da janela, trazia um pouco de ar puro para dentro do pequeno apartamento.  


Aurora vestia por cima dos shorts curtos o moletom estampado com as mais variadas manchas (respingo de comida, resto de esmalte, manchas de vinho e de água sanitária). Nos pés, um par de meias amarelas estampadas com cerejinhas, confortáveis e macias. A pele preta trazia ainda restos da maquiagem usada na noite passada… o delineado intacto, o brilho misturado ao pouco de sombra e base que ainda se mantinham ali, meio borradas. A certeza de que havia exagerado na noite anterior, naquela boate escura, tão distante de tudo que estava acostumada.


ainda sonolenta, levantou da cama e se dirigiu até o banheiro, que pareceu mais distante do que se lembrava. Tentou tirar o resto da maquiagem. O demaquilante se misturava à oleosidade acumulada na pele, deixando rastros por todo o rosto, com manchas escuras que não saíam de jeito nenhum. Ainda borrada e com preguiça de tirar os restos,  que pareciam lembrá-la de que algo havia acontecido na noite passada, ligou o chuveiro e começou a tirar o moletom - quente demais àquela altura - e a jogar os shorts no canto atrás da porta. Apressada, só conseguia imaginar a água quente escorrendo pelo corpo esgotado.


entra no box lentamente e com cuidado para não deixar a cabeça zonza a trair. A água quente começa a cair, deixando molhar primeiro os cabelos, que vão se misturando e grudando no rosto. Com as mãos apoiadas na parede, respira fundo e vai molhando o restante do corpo devagar. Pouco a pouco, surgem lembranças da noite passada. 


Mas você ficaria comigo?

sons de vozes e da música alta se misturam.

a água continua a cair, agora chegando a queimar a pele. 

os olhares sedentos se cruzam. Uma aproximação inesperada, a pele preta arrepiando com um único toque. Um beijo intenso e demorado.

Vamos sair daqui

a maquiagem agora escorre junto à água. 

o sabonete passeando pelo corpo tenso.

outro beijo. As mãos passeiam juntas corpo afora. Os toques cada vez mais intensos.

Aurora fecha os olhos e deixa a água escorrendo se misturar à sensação do corpo agora entregue.

Por que parar?

a batida da música no ritmo das respirações ofegantes.

“Quero sentir sua pulsação por dentro. Será que eu consigo”


o telefone toca. 


Aurora abre os olhos assustada, a respiração ofegante. 


*


Mas você ficaria comigo?

Não.


o telefone toca.


Aurora abre os olhos assustada, a respiração ofegante. 


*


Mas você ficaria comigo?

sons de vozes e da música alta se misturam.

a água começa a cair, ficando gelada e a despertando no susto.

Será que eu fiquei com ele?


o telefone toca.


Aurora abre os olhos assustada, a respiração ofegante. 


*


troca de olhares a noite inteira

troca de olhares a noite inteira

troca de olhares a noite inteira

meia noite. seu Uber chega em 1 min.

“Entra na minha casa, entra na minha vida”


o telefone toca.


Aurora abre os olhos assustada, a respiração ofegante.


*


Mas você ficaria comigo?

sons de vozes e da música alta se misturam.

a água continua a cair, chegando a queimar a pele. 

se aproximam aos poucos. os lábios perto demais para recusar.

Que boca gostosa

Aurora passa a mão pelo rosto e quando abre os olhos, vê o resto de maquiagem agora em suas mãos. 

lembra que estava de batom vermelho.

Poderia te beijar a noite toda

silêncio. um sorriso tímido.

vou buscar uma água e já volto.

“So wake me up when it's all over”


o telefone toca.


Aurora abre os olhos assustada, a respiração ofegante.


*


manhã de domingo. o sol quente entrava pela fresta da janela, iluminando e esquentando ainda mais o pequeno apartamento.  


Aurora vestia o moletom com gola desbeiçada, herdado de um casinho qualquer, por cima dos shorts curtos. O cabelo crespo embolado em um coque provavelmente feito antes mesmo de colocar os pés dentro de casa. Olha para baixo, em um pé, uma meia amarela estampada com cerejinhas, no outro, uma meia branca sem elástico, ambas bastante confortáveis, mesmo que não combinasse ou já estivesse na hora de jogar a do pé esquerdo no lixo.  


A pele preta trazia ainda restos da maquiagem usada na noite passada… o delineado gatinho intacto, o glitter dourado intenso misturado ao pouco de sombra e base que ainda se mantinham ali, meio borradas. A certeza de que havia exagerado na noite anterior, naquela boate que há tempos não ia, mas se lembrava o quanto gostava.


ainda sonolenta, levantou da cama e se dirigiu até o banheiro, que pareceu mais próximo do que se lembrava. tentou tirar o resto da maquiagem.

Onde eu deixei o demaquilante?

que porra.

pensou já ter sido mais organizada, e não encontrar o demaquilante só a fez querer continuar deitada na cama quentinha e macia. sem dúvidas seria a melhor escolha para essa manhã estranha, em que não se lembrava com clareza de nada da outra noite.

voltou para lá e adormeceu novamente (os pensamentos acelerados)

“Duvido que tu não vai se apaixonar”


som de mensagem no telefone.


Aurora abre os olhos assustada, pega o celular com um olho ainda meio fechado. Olha para a tela e vê a mensagem: Já quero te ver de novo.


O que eu fiz? Ignora o calor agora insuportável, a mensagem de não sabe quem, adormece de novo.


 
 
 

Posts recentes

Ver tudo

Comentários


Assine minha newsletter!

quinzenalmente, histórias exclusivas, reflexões e aventuras direto do meu mundo para a sua caixa de e-mail.

Obrigada e até breve! <3

© 2025 por Déborah Rodrigues

bottom of page