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Reminiscência

  • Foto do escritor: deborahrodriguesb
    deborahrodriguesb
  • 13 de jul. de 2021
  • 2 min de leitura

Atualizado: 28 de out.


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13 de julho de 2021.


O chão revestido com um carpete vermelho se estendia por toda a casa. Combinados a ele, móveis de mesma tonalidade, entre um marrom e vinho desgastados pelo tempo, que deixavam o ambiente aconchegante (além de garantir muitos espirros e narizes ao estilo torneira aberta).


Na área externa um quintal grande, uma horta farta: folhas de couve, bananeira, romãs e alguns visitantes especiais - gambás, micos, gatos, calangos... tudo impecavelmente bem cuidado por ele, com aquela cabeça branquinha, as roupas sujas pelas folhas da bananeira, o perfume característico e um pentinho sempre no bolso da camisa, pronto para deixar os cabelos arrumados a todo tempo.


A casa trazia muitas alegrias, e recordo bem de momentos preciosos. Como as idas ao sacolão. Eu era a companhia diária para escolher as melhores frutas e verduras, todos os dias pela manhã. Batia na porta do quarto: “Debinha, vamos ao sacolão?”. E eu me arrumava, serelepe, para o melhor programa do dia. Aprendi a escolher o melhor quiabo, a laranja mais suculenta, o valor de pequenos momentos.


Me recordo de receber muitas moedinhas, guardadas com prazer apenas para fazer a felicidade dos netos - a minha, inclusive. “Toma, compra bala lá no Tião”. Tião era dono da famosa vendinha que tinha de tudo um pouco, na rua de casa.


E os biscoitos “água e sal” (meus preferidos até hoje, com certeza por causa dele), guardados no alto do guarda-roupas velho e barulhento, e que a gente se arriscava a pegar “escondido” subindo na cabeceira da cama...


Ele era doce, reservado, amigo. Se preocupava em fazer os momentos em família, festivos ou no dia a dia, inesquecíveis.


Há algo que não podemos fugir e esse momento chegou. Me recusei a vê-lo daquele jeito e guardar lembranças tão dolorosas. Levanto do chão seco e estranho, carregado de dores que não conheço, e decido guardar comigo cada pedacinho de alegria compartilhada e cada abraço que fazia “ah, ah, ah”, com batidas fortes nas costas que transbordavam amor.


Para ele eu era a Debinha, e ele sempre será meu vovô João.

 
 
 

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